quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Farol das Almas

Certas noutes, brumais, dos plenilúnios,
A lua alva no aconchego dos negros véus,
Visão medonha, sagrada e dos eflúvios,
É a visão, sacrossanta dos ermos céus...

Há um mistério, que encanta e arrebata,
Que no ardor dessa santa contemplação,
Faz da lua um mistério que Deus retrata,
As santas almas, que jazem hoje ao chão...

Exuberante mas triste, paramentada,
É esta leiva que um dia acolherá,
Todas as almas da terra, iluminada...

A luz da lua atraca nos tristes portos,
Como farol, das almas enclausuradas,
Sagrada luz, angélica dos mortos...



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Vandalismo

Oh, que dor! Que tristeza, atroz, funérea,
Ao deparar-me com tamanha profanação...
Almas torpes, vândalos da paz cinérea,
Que desça a ira de Deus, por esta violação...

Eis que as lápides, ao chão, derribadas,
Leito dos mortos, do descanso tumular,
Evocam a demência de almas ofuscadas
Pela torpe obsessão, de um valor angariar...

Almas de sina errante, infames e sem luz,
Destroem, vilipendiam, e roubam a paz,
Daqueles que jazem, à sombra de uma cruz...

Decerto são almas vis, decaídas, dementes,
A rasgar sedentos, o lúrido sacrário, 
Rastejam pela vida – Oh, miseráveis mentes...

Cemitério do Araçá em São Paulo, após ataque de vândalos

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Meu Anjo...

Quando será que acharei descanso
Neste chão de melancólicas imagens
Recanto de paz, tristonhas paisagens
Das dores, das angústias e o pranto?

Em vão busquei-te por outros portos
Por entre as dores e sôfregos martírios
Por entre as dores de insólitos delírios
No amontoado de escombros e corpos...

Com a morte no estupor navego,
Nas congeladas magnólias enxergo,
Entre catalépticas visões de um sonho...

Nestas rimas de púrpura desolada,
Minh'alma febril, plangente, fatigada,
Repousa enfim do estertor medonho...


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Anfitriã Eterna

À espreita a morte conosco vaga, 
Desceremos junto ao sombrio leito... 
Até findar-se a aventura amarga, 
Nos infortúnios, e por ela eleito... 

Para enfeitar, as flores serão estampa 
Que o pranto verte no amor a alguém... 
Vestido em terra que agora acampa, 
Com uma prece e findando Amém... 

Óh manto escuro do além profundo! 
Abrigo taciturno de tão sublime paz, 
Sonhos findos, sem rumo, sem norte... 

Invólucro humano despe do mundo! 
Eis que agora, e pra sempre jaz, 
Em baixar ao leito a soturna morte...

Imagem: Cemitério Consolação - São Paulo



terça-feira, 23 de abril de 2013

Alma Peregrina

Quando à fria lapide acampar,
 As preces fervorosas e esta oração;
Estarão as rosas como a chorar,
Os sonhos idos de amor e paixão...

Óh Ser, tão compassivo e carinhoso...
Anjos harpejam por convulsos dedos!
Entoam um Salmo, sublime, glorioso,
Balada melodiosa, poemas, enredos...

E dentro do leito, lágrimas e memórias,
De todos os sonhos, pueris, imaculados,
São melodias, sublimes e merencórias...

É quando verte do céu uma música divina!
-Rosa das Flores, que pelas flores murmura,
Tu'alma por entre elas, passeia e peregrina...


Cemitério da Consolação - São Paulo

quarta-feira, 13 de março de 2013

Evocações


Sinto que este dia brumal, tempestuoso,
Evoca sentimentos, tristes, merencórios...
Está assim, como em prantos e pesaroso,
Como são os dias, tristonhos dos velórios...

Medito por um instante no sono eterno,
Dentro da sepultura, nos braços da morte...
Sou todos os medos, que n’alma externo,
Ainda que os anjos, minh’alma conforte...

Estará a chuva pranteando as dores
E este sentimento, triste, sem flores,
Em rotos nimbos, negros da aflição?

Resta-me um sentimento tristonho
E este céu, lutuoso, cinza, medonho,
Apaziguado nos Salmos duma oração!




terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Eternas Bênçãos

Minh’alma pranteia tristonha e merencória, 
Com recordações, d’outros tempos já idos; 
In Memoriam, são meus versos dedicatória, 
Junto com as flores e sonhos interrompidos... 

Aquilo que restou, e hoje é somente história, 
Outrora um devaneio sonhado junto contigo, 
Agora jaz perene na pétrea campa marmórea; 
Dos sonhos acalentados, findados neste jazigo... 

 Mas eis que os desejos daquilo que me restou, 
Amores e os juramentos, e tudo que se findou, 
São hoje as minhas dores, prantos, e tristes ais. 

 Mesmo assim, a trajetória que nós compomos, 
Finda nesta campa, e daquilo que um dia fomos, 
Serão Eternas Bênçãos, consolo que me apraz.